As maiores emoções e os melhores sentimentos são difíceis de expressar. Como escrevi um dia, há sentimentos que simplesmente não se escrevem e, por isso, fica sempre demasiado por dizer.
É dormir horas e horas seguidas e acordar cansada. É estar rodeada de pessoas e sozinha ao mesmo tempo. É estar calor e ficar gelada. É respirar e sentir que me falta o ar.
Deixámos que o tempo se arrastasse sem que fizéssemos nada por nós. Agora, sofro as consequências da culpa que carrego por não ter lutado por ti. Não é justo. Um passo em falso ou depois do tempo e nada, mesmo nada, voltará a ser como era. Não posso dizer que sinta falta de ti, porque sei que estás sempre lá quando precisar, mas sim do que fomos em tempos, juntos. Eu aqui, tu não sei bem onde. Eu a escrever para ti, tu a escrever sei eu bem para quem. Não consigo mais, não suporto esta dor. Saber que o meu lugar em ti foi ocupado por outra pessoa, apenas por uma estúpida discussão que mudou tudo, completamente tudo! Desculpa não ter lutado, mas naquela altura senti que tu também não o querias fazer por nós. E um só a lutar não faz sentido. Não para mim.
Eu não queria que partisses. Não queria ficar sem o teu abraço e já sinto o teu cheiro a desvanecer no ar. Não queria uma vida inteira sem ti, sem os teus beijos e os teus carinhos. Queria mais longas conversas, gargalhadas e olhares cúmplices. Rosas e afectos.
Voltei a ser metade novamente. Eu não queria, mas é tudo melhor sem ti. Já nada disto me fazia feliz, tu já não me fazias feliz, porque deixaste de ser a pessoa por quem me apaixonei um dia.
Lembro-me da escuridão dos meus dias, há poucos anos atrás. Custa relembrar o porquê, apenas pelo simples facto de nem eu saber, depois de tanto tempo.
Nada me fazia feliz, nada me fazia sorrir ou rir. Afastei-me dos meus amigos e sobretudo de mim própria. Já não me reconhecia. Tudo me irritava, e até o vento me fazia chorar. Sim, lembro-me de chorar todos os dias, sem excepção, por tudo e por nada. As noites, passava-as em branco, entre lençóis e lágrimas. Ninguém me compreendia, tudo estava contra mim e a mim só me restava desaparecer.
Felizmente, fui forte o suficiente para sair da depressão que me consumiu durante meses. Fui capaz de ultrapassar tudo e sorri de novo. E se eu consegui, tu também conseguirás.
Queria fechar os olhos e por um momento sentir que o mundo é só meu. Poder estar em todo o lado, ao mesmo tempo. Ser eu, sem injustiças, sem preconceitos, sem maldade. Ser eu, rodeada de paz. Sim, paz, é tudo o que preciso neste momento. Está tudo tão confuso. Sentimentos espalhados como roupa pelo chão. Preciso organizar as minhas ideias, para não dar um passo em falso.
Tenho medo de te perder, mesmo sem nunca teres sido realmente meu. Não quero que vás, porque ires significa não regressares. Sei bem que não te posso prender realmente a mim, mas no pensamento permanecerás eterno. E isso assusta-me. Ficar presa de uma forma tão diferente, apaixonante e angustiante. Quase me sufoca só de pensar no vazio tão grande que vai ficar em mim, para sempre. Nunca mais poderei ser de alguém. Porque esse alguém está de partida. E eu assisto. Sem poder fazer mais nada.
Ser frágil. Uma vida a lutar pela sobrevivência. Alguns vão ficando pelo caminho, porque são apenas frágeis. Outros, frágeis mas fortes. Uma força que vem de dentro, que te faz querer agarrar aquilo que te faz bem. Que te faz querer chegar onde te sintas seguro.
"Pois onde procuras o teu bem mais valioso. encontrarás o teu coração".
"Eu e tu" num só "nós" é já uma imagem passada. Não importa mais aquilo que senti, ou pelo menos, já não dou tanto valor ao ser que és. E porquê? Simplesmente aconteceu. Assim como aterraste no meu coração também levantaste voo e, na verdade, não me importei. Está bem, ao princípio sim, mas depois? Nem imaginas a falta que não me fazes. Nunca pensei viver sem ti, mas agora que o faço, sou bem mais feliz do que no passado.
A viagem começa agora, e não mais terminará. Percorrerás longos caminhos, ultrapassarás grandes obstáculos. Farás novas amizades, nunca esquecendo quem deixaste para trás quando partiste. Alimentarás o teu corpo e matarás a tua sede com recordações. Matarás a saudade com amor.
Irás olhar vezes sem conta para trás e perceberás que tudo o que já alcançaste foi por ti mesma. Outras tantas vezes, irás levantar a cabeça e olhar o horizonte. Porém, não o conseguirás ver em alguns momentos, por estar tudo demasiado desfocado à tua volta. Vais sentir-te perdida, mas continuarás o caminho.
Chegará o momento mais difícil, e terás de escalar a parede da sobrevivência. As rochas vão escapar-te da mão e deslizarás em direcção às profundezas. Porém, continuarás firme e as mãos já ensanguentadas conseguirão suportar o peso da alma. Recuperarás a distância perdida e chegarás ao topo.
A brisa suave irá atravessar os teus longos cabelos, e tornar-te-ás livre pois tocaste o horizonte. Depois, seguirás o teu destino.
O jardim encontrava-se repleto de vida naquele dia caloroso de Verão. Os bancos de madeira voltados para o rio eram o elemento mais requisitado. Os senhores iam lendo o jornal do dia, enquanto suas esposas observavam a natureza em seu redor, os casais de namorados, sempre tão cúmplices, trocavam carícias naquele cenário romântico e as mães sorridentes, olhavam os seus filhos que brincavam na relva verdejante do jardim.
Na ponte que atravessava o rio, um rapaz bem-parecido parecia estar impaciente, como se esperasse alguém. Quando ao fim de algum tempo olhou para o relógio preto que trazia no pulso esquerdo, notei de imediato algo belo. A sua mão esquerda segurava uma rosa branca. Era de facto muito bonita. De repente, e em passos inquietantes, voltou a caminhar pela ponte, para lá e para cá. Pude notar nervosismo no seu rosto.
Aproximou-se da margem da ponte e olhou o seu reflexo nas águas calmas. Desta vez, senti tristeza e angústia. Porém, a minha atenção foi captada por um outro rosto. Uma jovem de cabelos longos pisou a ponte e começou a correr em direcção ao rapaz. Este ergueu a sua cabeça e um sorriso rasgado surgiu em seu rosto.
Os dois jovens olharam-se durante algum tempo, até que o rapaz estendeu a sua mão e entregou a bela rosa branca à jovem. Os rostos aproximaram-se e ambos se entregaram à liberdade do amor.
Preciso de estar só. Quero fugir daqui. Caminhar para chegar o mais longe que conseguir. Quero ser apenas eu, e que o resto do mundo desapareça. Não preciso de ninguém agora. Tudo o que eu menos preciso é de outro alguém.
É suposto amar alguém que nos faz sentir como se fossemos o centro do mundo. Não, como se fossemos o mundo! Não é suposto amar alguém que por muito que nos esforcemos para agradar, a única coisa que recebemos em troca é um sorriso frio, sem sentimento algum. Não, o problema não é o sorriso. É o acto de esforçar. No amor não há esforços. Há amor, e nada mais. Apenas somos aquilo em que o amor nos transforma, em algo belo e caloroso. Algo que só o outro alguém consegue sentir. Quando amamos, amor somos também. Se somos amor, o nosso coração igualmente o é. E amor não tem gosto, não vê, não cheira, não ouve, mas sente. Esforçarmo-nos para agradar alguém que não sente, é amarmos alguém que não é amor. É amarmos alguém que não é o nosso amor.
Sete da tarde, o céu já a querer escurecer. Mais uma vez lá estava eu na estação de comboios, empolgada pelo teu regresso. Já há uns bons anos que parte da minha rotina tem sido esta. Mas lá continuava eu, cega de ilusões e sonhos de uma vida cor-de-rosa ao teu lado. Só faltavas tu para que tudo voltasse a ser como era dantes.
E não importa o tempo que me fizeste esperar por ti, por mais impaciente que seja esta espera. Tudo o que não vivemos juntos iria em pouco tempo estar envolto em meus braços.
O último comboio do dia chegou. Centenas de rostos passaram pelos meus olhos, outros tantos pareceram-me o teu, mas mais uma vez tu não voltaste.
Regresso a casa. Amanhã esperarei por ti, novamente.