Com o cair do pano negro no horizonte, regressou a chuva miúda que nos reinventou os pensamentos, neste Inverno. Imaginei-te imóvel no jardim da minha casa. Pisavas a relva, delicadamente, com os pés descalços de medo e covardia. A tua cabeça ergueu-se e, os teus olhos, comtemplaram-me como se eu fosse uma estrela cadente suspensa no ar ou apenas uma pequena rosa capaz de te enfeitiçar. As gotas de água caíam do vazio e deslizavam no teu rosto, parecendo lágrimas. Parecendo, cada uma delas, um pedido de desculpa; por não teres lutado por dias melhores ou por nem sequer teres tentado recuperar um coração que batia por ti. Não te esqueças que nunca é tarde demais para nós. Boa noite, bebucho.
O trilho que os nossos corações atravessam encontra-se repleto de buracos na terra, regados e preenchidos pelas lágrimas que ao longo do tempo se foram soltando. Usa as palavras sábias que um dia me proferiste para que um sorriso sincero no meu rosto reaparecesse. Fá-las falar com o teu coração e deixa que ele as oiça. Eu sei que o céu parece demasiado escuro e, nem a lua te consegue guiar nesta noite que teima em permanecer, mas nunca desistas daquilo que verdadeiramente te pode fazer feliz: tu próprio!
Guardo cada sorriso teu solto no ar. Fazes-me bem, enquanto o mundo lá fora continua demasiado disperso, tentando perceber as nossas reais intenções. Duas almas que se encontraram. Dois corações que batem em protecção um do outro. E que tudo permaneça tão doce como hoje; tão suave como o amanhecer que se mostrará em breve.