Por Patrícia Lobo - quarta-feira, junho 13, 2012
Às vezes o melhor momento é aquele pelo qual ainda não passamos. Às vezes o melhor caminho é exatamente aquele pelo qual jamais iremos trilhar. E o amor às vezes nos acontece exatamente porque ainda não nos aconteceu; um amor feito da mesma matéria de que são feitos nossos desejos, que nele nos seguramos quando nada temos nas mãos. Somos apaixonados - além do Amor propriamente dito - por horizontes e amanhãs. Afinal, não é disto também de que são feito os nossos sonhos? Pois o amanhã será sempre terra fértil, onde os frutos são todos doces (ou menos amargos) e todas as nossas escolhas, menos equivocadas. E lá, no amanhã, eu poderei ser feliz, lá eu serei inteiro, amado e amante, mesmo que hoje eu celebre minhas metades e me contente com tristezas que não quero. As ilusões e os reflexos nos convencem, levem-nos ao real de nós ou não. Por isso sinto que somos o que ainda seremos. Sou mais real nas férias que aguardo e na viagem que planejo, depois da graduação ou daqui a 15 minutos. Somos feitos de intervalos e expectativas entre o agora onde me encontro e aquela festa na qual fui convidado. Sou uma pausa entre o que sou e minhas ansiedades. Aí então, pleno no meu vir-a-ser, existirei inteiro com o diploma na mão e depois, com o emprego dos meus sonhos e depois, serei feliz durante a festa e depois, quando de mãos dadas com alguém e durante, não antes. Somos reais ao avesso, exatamente pelas nossas projeções. Somos reais em um contínuo estado de espera. Sou o que ainda serei. Sou por consignação. Aí então digo que hoje o Amor em nós custa caro, porque nos consome entre suas doçuras e os conflitos que nos causam; porque devora entre paixões que nos arrebatam e exigências desmedidas. Porque o Amor em nós são as alternâncias, as contradições, o doce que precede o amargo que precede o doce, sombras que se conversam e se curvam rebeldes mas entregues a quem se ama. E nem sempre estamos dispostos a pagar o preço do inevitável; porque estar no agora é assumir o todo e a soma das suas partes. Porque o Amor nos rasga inteiro quando também nos costura; porque o Amor é a tensão - e a tesão - que nos eleva e também nos arrasta. E saiba: a gravidade só existe no presente; ao futuro sempre será permitido as levezas. No amanhã, o Amor é mais fácil porque ainda não o é. Sem cobranças e sem juros, mas também sem rosto.
Guilherme, em A Ilha de um homem só.
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